Wednesday, June 27, 2007

[Gozo]




Eram nada mais do que dois corpos ardentes e apaixonados. O calor fugás, o suor tépido e o riso cálido entorpecia qualquer um que por perto passasse. A fuga, a fuga evasiva nada mais era do que uma farsa. Sair daqueles braços seria uma morte lenta, desistir não era cabível.

O sabor, o aroma, a textura. O corpo como um todo e não como parte. O riso como um rio de margens largas e grande curso, o rosto como o cativar que te tornas responsável, o ser como um deus.

Um misto de angústia e vontade, de sentir-se preso e querer libertar-se, de unir-se e não mais separar. Dois corpos cuja sintonia conjunta entrelaça-se e difrata-se pelo eu. Encontrando e esmoecendo. Corpos. União.

A surpresa e o encanto arrebatador sufocam as atividades pueris. Interrogar e sempre: o prazer de minha carne não é de outra senão de minha. E não sou outro que não tu.

Tuesday, June 19, 2007

[Queísmo]








Que a vida seja o começo de toda a desaventurança humana.
Que o amor seja o fim de toda a banal existência individual.
Que a paixão seja a interpérie de todo o momento extasiante.
Que o pensar seja a desenvoltura de toda a obra humana.
Que o questionar seja o fato primordial de todo real ser humano.
Que o aprender seja a vivência essencial de toda alma.
Que a amizade seja o motor perpétuo familiar.
Que o tempo seja o coadjuvante mas nunca o principal.

Que o problema seja sempre parte da solução.
Que a morte nunca seja o escape.
Que a solidão seja eternamente temporária.
Que a arte seja eterna expressão.
Que o corpo seja sempre o melhor instrumento humano.
Que o sexo não seja posto em pedestal.


Que o viver seja sempre o nosso próprio.
Que o sussurro seja sempre o comunicar dos amantes.
Que o beijo seja a melhor comunicação entre os apaixonados.
Que o olhar seja infinitamente mais importante que a palavra.
Que o preconceito seja abolido.
Que a voz seja ouvida.
Que o fantasma da nossa existência não caia no esquecimento.
Que o lugar mais meu seja eternamente meu.


Que o significado seja próprio.
Que a mulher seja sempre feminina.
Que o homem seja sempre protetor.
Que o susto nunca seja assustador.
Que o acidente seja sempre pressuposto.
Que o suicídio seja sempre acidental.
Que a morte seja possivelmente ocasional.

Wednesday, June 13, 2007

[Crescer]




Tenho que ir. Já faz hora.
Já faz hora de acordar sozinho
de aprender a comer.
Já são horas de brincar de coisa séria
e não entristecer por idiotices.

Está no tempo de aprender a ser gente
e não mais um mísero agente.
Deixar de ser uma voz passiva e passar a ser
ativa.


Vezes de apaixonar-se
sem ser Édipo.
De gostar-se
sem ser Narciso
De vencer
sem ser Aquiles.


O tempo passa...
Veja! Passou.
Nem vi. Foi.

Thursday, June 7, 2007

[Finalmente]





Com o tempo a gente começa a aprender certas coisas que antes não sabiamos. E vamos aprendendo, aprendendo e aprendendo numa freqüência que parece não ter fim. Mas eu tenho a impressão que de tempos em tempos temos flashs que em poucos segundos nos fazem entender coisas que estivemos remoendo por tempos. É num pequeníssimo segundo que recobramos a consciência, é num espaço infinitesimal que acordamos e nos damos conta de nós mesmos, nossa posição, do que acertamos, erramos e aprendemos.


Cresci. Sei que cresci. Aliás, crescer é algo que crianças fazem. Já não era mais criança, portanto, amadureci. É fato: o mundo ficou mais feio, mas ao mesmo tempo mais vivível.



Os sonhos de criança se desenvolveram. É algo simples: Antes, estava dirigindo um carro numa manhã com neblina. Dirigia devagar, nunca ultrapassava os 40km/h, e tudo a minha frente estava enevoado, obnublado, difícil de ver; a viagem era mais fácil, mas eu sempre estava inseguro. Hoje, toda a neblina passou e posso ver a estrada. Minha velocidade é sem limite, mas ainda permaneço na casa dos 120km/h, mas é tudo muito claro e eu posso ver que o caminho a minha frente é mais tortuoso do que eu achei que fosse. E com toda essa velocidade, a viagem acaba sendo mais perigosa, mas finalmente tenho mais segurança em mim mesmo.


É impossível não crescer, é impossível não perder a fragilidade infantil, a inocêcia pueril. Estou perdendo o medo que tinha quando era criança: o escuro não me assombra mais, relâmpagos não me assustam.


Meu conceito de amor está mudado. Amizade se transformou em algo totalmente diferente (mas os amigos de ontem, continuam sendo o de hoje). O sexo desceu do pedestal, o palco abriu as cortinas e o espetáculo finalmente iniciou. Acabaram-se os ensaios, foi o fim dos erros banais.
Mas nem todos os meu redor fizeram o mesmo. Mas são apenas crianças, e não deve a mim o dever de ensiná-los. Caro amigo que lê isso: não se ensina como amadurecer, mas pode-se fazer isso da melhor ou da pior maneira – escolha a sua. Estou me abstendo de várias coisas, de várias pessoas, confesso. De muitos isolado, de outros irritado, e da maioria, cansado, fatigado.


E estou confiante. É mais reconfortante quando se pode olhar para frente e dizer tudo o que planeja fazer e perceber os caminhos necessários a isso. Eu vinha estando ‘aéreo’ por alguns dias, mas agora entendi o porquê. Foi melhor assim. Agora entendo. Agora vejo.


Sei que esse texto não vai ser entendido por muitos (isso se houver alguém que possa entendê-lo além de mim). Mas é assim que é. É assim.



Tuesday, June 5, 2007

[...]



Sempre o mesmo
sempre o peso
sempre o caso
sempre o fato
sempre o choro
sempre o mesmo.

Nunca o contra-ponto
nunca o fogo
nunca o coro
nunca o mesmo espaço
nunca o gajo
nunca eu mesmo

O flexível
o maleável
o (in)substituível
o tangível
o compreensível
o eu mesmo.

Tese, antítese, síntese: Eu.


Murilo Reis

14/03/2007

23h21min

Friday, June 1, 2007

Blue


Bem, eu prometi que ia colocar um post. Certo que o fiz e ele está guardado. Mas hoje resolvi postar outro, algo que eu fiz, um pouco mais antigo, mas voltei a me sentir assim.


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Então você nunca esteve blue

Sou a escória. Sou a escória do meu mundo, um lugar onde só vivo eu.
Sofro por não ter aquilo que nunca tive e por não ser aquilo que nunca fui.
Pobre desilusão minha;
Leviano ao pensar que algum dia poderei ser algo dos quais pensei.
Mais parece-me um fardo a ser carregado, mais parece-me uma vida inteiraque será composta e decomposta em mim.
Corro sem ter destino e tenho corrido e tenho fugido e não tenho chegado à lugar algum.
Meu norte converge ao sul, meu sorriso converge à tristeza.
Nunca fui fidedignamente alguém. Sou apenas esboços, sou apenas cópias.
Copio em mim o que me faz cair de amores no outro.
E o outro continua a ser outro. Nunca será o mesmo, nem a mesma; imagem.
Escrevo-me como uma melodia. Desarmonica, descompassada, desajustada.
E obrigue-me, obrigue-me a mudar. Force-me, estrangule-me.
Dê-me bofetões à cara.
Mas nunca mais deixe-me fantasiar corpos. Nunca mais faça-me teu.
Odeio não ter controle sobre mim. Sou marionete, sou marionete nas vossas mãos.
Mas com a tristeza de uma criança, meus cordões comecei a cortá-los.
Dilaceram-me a carne, sufocam-me em corpo.
Quebro meus juramentos. Mas perdoe-me, inocente-me. Com ligeira precisão voltar-me-ei ao curso que jurei tomar.
Que todos sofram, em verdade desejo, que todos sofram. Moderadamente.
Estou preso a um ser, bloqueado por um eu inexistente.
E a dor dilacera. E continua a dilacerar.
É carne clamando por carne. É o superficial.
É reles, incompleto.
Até mesmo o prazer momentâneo torna-se. E mais uma vez superficial.
Cantam-me loas, sem ao menos saber a quem dirigem-se.
E proibem-me de sangrar. Por isso, em segredo, tenho hemorragias diárias.
Tenho revertérios e tenho dilacerações. Em segredo.Drogo-me de mim mesmo. Sou droga, sou veneno. Mas só mato a mim.
Como gostaria de parar de envenenar-me, mas inconcientemente, não consigo.
Mato-me aos poucos. A cada dia tenho um dia a menos.
Será o orgulho da mocidade ou a tristeza da velhice? Não sei.
Como também não sei até onde meu nervos suportam.
Mas até onde puder seguir, seguirei.
E quem sabe, algum dia em minha impróspera vida, eu venha a descobrir onde eu me escondo.

Murilo Reis21/03/2007 23h08min