Monday, January 22, 2007

Mistakes





“Biochemically, love is just like eating large
amounts of chocolate.”
John Milton, The Devils Advocate




[No divã]

  Erramos. E como erramos. Tomamos um caminho errado, escolhemos branco quando deveríamos escolher preto. Vamos para o campo quando deveríamos estar na praia. Escrevemos errado, falamos errado, andamos errado, comemos errados, vemos o que não deveríamos ver, pensamos o que não deveríamos pensar. Enfim, produzimos material fecal (ou seja, fazemos merda) todo dia.
  É supostamente mais simples quando erramos com coisas. Digo, quando erramos caminhos, lugares, escolhas palpáveis. Por exemplo: se viramos na rua errada, basta voltarmos e tomarmos o caminho certo; se escolhemos o branco, basta mudar e pedir um preto. Errar com objetos é relativamente fácil. Claro que como todo erro teremos conseqüências e deveremos arcar com nossos ato, algumas penas leves, outras mais pesadas. Mas o consertar do erro com objetos depende majoritariamente da pessoa que errou. Você deve consertar e pronto.
  Claro que alguns erros com objetos também podem ter resultados catastróficos, mas eles ocorrem com menos intensidade. Não é todo dia, por exemplo, que se dispara um míssil teleguiado, posicionado com GPS mirado para Brasília carregando uma bomba atômica junto com ele. Hipérboles à parte, erros como a Construção do Palace II não ocorrem todo dia. E este é claramente um tipo de erro de objeto que pode afetar drasticamente.
  Mas eis que, como o linguajar popular diria, descobrimos que ‘o buraco é mais embaixo’.

[Ferrado e fudido e perdido no meio da selva]

  Quando ainda somos crianças, pequenas crianças, não temos idéia do que virá pela frente. É muito fácil quando colocamos o triângulo no lugar do quadrado, o problema é quando jogamos o quadrado e o triângulo em alguém. Traduzindo: Os piores erros que podemos cometer são os que envolvem pessoas. Tanto fisicamente quando emotivamente.
  A exemplo do Palace II, o problema todo não reside na queda do prédio, mas sim nas vidas das pessoas que lá habitavam. O problema não é escolhermos a cor errada, mas sim darmos essa cor de presente alguém. O problema do míssil enviado à Brasília é matar aquele pessoal que não trabalha na esplanada, nem no congresso, nem na assembléia...
  Esses sim são erros crassos. Um erro crasso é um erro que termina com um namoro, com uma amizade. Um erro destes é um erro que ter mina com a vida de várias pessoas. É um erro deste que faz um pai ficar 20 anos sem ver seu filho.
  E sabem o que mais? Esses erros costumam acontecer em intervalos de tempo quase impossíveis de se descrever. Dizer que durou um nanossegundo é antilírico demais para poder expressar o tempo psicológico que dura.
  É como cortar madeira. A árvore leva décadas para poder crescer vistosamente. Mas demora pouco menos de 10 minutos para ser levada ao chão.
  Alguns erros crassos podem ser perdoados, alguns não. Aí é que reside todo o perigo do erro relacional. É fácil demais quando somos nós e ninguém mais do que nós que deve corrigir o erro. O real problema é quando envolve alguém; e você nunca tem certeza do perdão ou da absolvição. Você nunca sabe se sua namorada voltará a ficar de braços abertos para contigo.

[Eis Pandora!]

  Alguns erros, fatalmente terminam com conseqüências absurdamente doloridas. Alguns com conseqüências leves, daquelas que doem mas não machucam. Mas se me permitem um conselho: Nunca conte com a proeza das probabilidades...
  Mas como todo esforço produz um calo, começamos a errar menos. A, finalmente, termos mais certezas.
  Mal-aventurados aqueles que não conseguem com a ‘normalidade’ tome conta novamente. É fato que a rotina cansa, mas a segurança não.
  Porém, se me permitem uma certa argumentação, começo a perceber que somos um tanto quanto sado-masoquistas. Sempre olhamos nossos erros, mesmo que os diários, mas nos esquecemos dos acertos. Sempre ficamos tensos quando entramos na rua errada, mas não ficamos tão extasiados quando entramos na certa.
  Deveríamos, a meu ver, ficarmos mais extasiados nos acertos. Por exemplo quando estamos prestes a conhecer alguém. Quando vemos uma guria linda, com uma cara, às vezes até que de palhaço, mas que podemos nos encantar com coisas simples e lacônicas que dela podem sair. Quando vemos um amigo querido surgindo nas escadarias do metrô. Quando escrevemos uma frase que nos faz sentir bem, mesmo que ninguém mais consiga entende-la.
  Enfim é isso. Errar menos, aproveitar mais. That´s the law.



[*] Como eu havia dito algumas coisas nesse blog não saem ao acaso. Portanto, qualquer semelhança com a vida real NÃO É MERA COINCIDÊNCIA.

Friday, January 12, 2007

Melancholia


                                            


 

“Everything great in the world comes from neurotics.
They alone have founded our religions and composed
our masterpieces.”
Marcel Proust



[Remexendo no empoeirado baú de minha mente]

  Às vezes eu tenho dúvida se nasci na época certa. O sentimento de estar na época errada, de estar vivenciando a época errada é sofrível. Não que eu esteja reclamando da vida, mas eu poderia ter nascido uns dez anos antes. Ah, isso eu podia!
Se isso tivesse acontecido eu teria jogado mais a Atari, eu teria usado roupas hoje chamadas de retro, eu teria visto ao vivo o show do Nirvana, eu teria brincado mais na rua (eu poderia passar o dia todo aqui só enumerando coisas que eu poderia ter feito).
  Dias atrás eu me rendi e brinquei de Lego. O velho e eterno Lego. Esse brinquedinho é curioso, parece explicar a vida com suas coloridas peças de vários formatos podemos fazer, praticamente, qualquer coisa (de brinquedo, óbvio...) e em um mesmo instante (na verdade, imensamente mais breve que o anterior) podemos destruir aquilo que construímos.
  Sinto muita falta de viver em um tempo em que teríamos por o que lutar. Falta de uma época em que existia um número maior de pessoas com consciência sobre o mundo.
  Vamos dizer assim: Hoje em dia Não temos mais heróis. Não temos. Temos ídolos, mas não temos mais alguém que tenha lutado para espelharmos-nos. Alguns poderão dizer que se espelham em determinados ícones. Concordo, eu também faço isso. Mas eles não são mais heróis já que não temos mais lutas. Espelhamos-nos para mudarmos nossos atos, mas não para mudarmos o mundo.



[Brechó de memórias]

  Contudo, não sei se os dez anos a mais dariam certo. Tenho consciência de que a melancolia que hoje sinto ocorre pelo fato de ser impossível eu vivenciar esse passado tão desejado. E eu provavelmente não teria consciência se eu estivesse vivenciando esses momentos no presente.
  Bem, na verdade não tenho TANTA certeza assim. Mas também fico pensando: Será que a geração futura sentirá essa melancolia que sinto por não ter vivido nesta época em que vivo? Sei não, viu... Nesses tempos atuais não temos tido muita coisa da qual orgulhamos-nos (tampouco de odiar convincentemente).
  As crianças de hoje em dia estão perdendo a inocência muito cedo (alguém se lembra daquela historinha de que crianças é um anjo até os setes anos? Pois eu acho que elas não estão chegando nem aos sete...).
  Vou colocar logo aqui embaixo um vídeo que eu achei há alguns dias no youtube. Eu não cheguei a conhecer tudo que se passa no clipe, mas grande parte sim (Eu achei que faltou Rafael, Michelangelo, Donatelo e Leonardo...).



[Conclusão memoriológica]

  Vou colocar uma frase de um grande (um dos melhores) filme que eu já assisti: “É FÁCIL QUANDO SE TEM ALGO PARA LUTAR CONTRA”. Realmente. Por isso que atualmente nos reduzimos a isso. Não temos nada contra o que lutarmos.
  Bem, para ser sincero até temos. Mas são lutas individuais. A água está acabando: cada um deve usá-la racionalmente. O petróleo tem fim: ande menos de carro. Não temos mais a luta, tampouco a glória que vem da vitória. Felizes os que tinham (imaginem os franceses de maio de ’68. Aquilo era vida. Aos que não conhecem a história recomendo o filme “The dreamers – Os sonhadores” Do Bertolucci)
   Mas atualmente tem surgido um novo tipo de luta (essa é a herança dos finados ’90). Estamos lutando contra nós mesmos. Não é a toa que especialistas dizem que a FLUOXETINA será a nova aspirina (mesmo eu odiando essa idéia).
  Porém ainda são poucos os que têm consciência de si próprio, de sua própria vida e o rumo que ela toma. São poucos os que pensam coisas consistentes (Mas reafirmo: Morte ao PROZAC!).