Thursday, November 27, 2008

[AssholeFuckPussyCock]


“Já me estão a cansar… parem lá com a mania de que digo muitos palavrões, caralho! Gosto de palavrões! Como gosto de palavras em geral. Acho-os indispensáveis a quem tenha necessidade de dialogar… mas dialogar com caracter! O que se não deve é aplicar um bom palavrão fora do contexto, quando bem aplicado é como uma narrativa aberta, eu pessoalmente encaro-os na perspectiva literária! Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar. Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante. (…)


(…) Se há palavras realmente repugnantes, são as decentes como ‘vagina’, ‘prepúcio’, ‘glande’, ‘vulva’ e ‘escroto’. São palavrões precisamente porque são demasiadamente inequívocos… para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que ‘fica na vagina da mãe’ ou ‘no ânus de Judas’. Todas as palavras eruditas soam mais porcas que as populares e dão menos jeito! Quem é que se atreve a propor expressões latinas como ‘fellatio’ e ‘cunnilingus’? Tira a vontade a qualquer um! Da mesma maneira, ‘masturbação’ é pesado e maçudo, prestando-se pouco ao diálogo, enquanto o equivalente popular ‘esgalhar um pessegueiro’, com a ressonância inocente que tem, de um treta que se faz com o punho, é agradavelmente infantil. Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá. Eu faço o que posso.”

(Miguel Esteves Cardoso)

Monday, November 24, 2008

[Vômito]




Na ânsia de viver, tenho sentido enjôos.

Sunday, November 23, 2008

[Curta o curta]


Tem um curta chamado Manual para atropelar cachorro.

O link está aqui.
Dura 18 minutos, mas já te digo que vale e muito a pena "perder" esses minutos.

Friday, November 21, 2008

[Parole]


Não passa de ser a mais absolta verdade. O corpo pode ser lindo, a roupa pode ser estilosérrima, mas depois do fim, só as palavras restarão.

Wednesday, November 19, 2008

[Voltando]


Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)
Caio Fernando Abreu

Friday, November 14, 2008

[Centésimo Post]


Blog sob recesso até segunda ordem. Time to fix life.

Friday, November 7, 2008

[Desilusão]



Há uma desilusão para tudo e para todos. Há uma desilusão para você que quando criança acreditou que poderia alcançar as estrelas, uma desilusão pra você que achou que o peixinho dourado do seu aquário, tão sorridente, jamais morreria. Para todos que colecionam selos sem mandar carta a destinatário algum. Existe uma desilusão para todos que, como eu, acreditaram um dia que ninguém tivesse coragem de matar a borboleta amarela vistosa que visitava o jardim da casa da minha avó todos os dias, inglesamente, às 5 horas da tarde. Há uma desilusão na foto rasgada no chão do quarto da garota que acreditou que pudesse e fosse passar o resto da sua vida ao lado do garoto do colegial, um ano mais velho que ela.

Existe uma desilusão em toda onda que morre no mar, todo raio de luz que tenha viajado anos-luz para chegar à Terra sem que ninguém o tivesse visto. É uma desilusão ao cometa que se incendeia sem que ninguém, ao menos um mísero mortal, tivesse feito algum pedido ao vê-lo.

Há uma desilusão em toda zebra que descobre ter passado a vida toda de pijama, em toda girafa que se descobre a mais alta da savana e em todo elefante que esquece o lugar onde nasceu. É uma desilusão à barata a repugnância que sentem por ela. O primeiro dente que nasce numa boca virginal, a primeira espinha do adolescente isolado, a primeira noite sem conseguir dormir do executivo de sucesso, o primeiro cabelo branco do jovem senhor, o último dente original da boca tão mastigada.

É a desilusão da desilusão da vida que leva todos os desiludidos a continuarem a viver. E enquanto houver um raio de sol haverá, em algum coração, a falta de uma ilusão.

Tuesday, November 4, 2008

[Porto Alegre, 10 de agosto de 1985]


Não era nada com você. Ou quase nada. Estou tão desintegrado. Atravessei o resto da noite encarando minha desintegração. Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma urgência.E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.

Te escrevo com um cigarro aceso e uma xícara de chá de boldo. A escrivaninha é muito antiga, daquelas que têm uma tampa, parece piano. Tem um pôster com Garcia Lorca na minha frente. Um retrato enorme de Virginia Woolf. E posso ver na estante assim, de repente, todo o Proust, e muito Rimbaud, e Verlaine, Faulkner, Ítalo Svevo, William Blake. Umas reproduções de Picasso. Outras de Da Vinci. Um biscuit com um pierrô tão patético. Uma pedra esotérica ainda de Stonehenge, Inglaterra, uma caixinha indiana. Todos os meus pedaços aqui.E você não me conhece, eu não conheço você.

Te escrevo por absoluta necessidade. Não conseguiria dormir outra vez se não te escrevesse.Zelda, há também o único romance escrito por Zelda Fitzgerald, a mulher de Scott Fitzgerald, que morreu louca, um incêndio, um hospício. Chama-se "Save me the waltz". "Reserve-me a valsa", não é lindo? Lembra o Brahma, se se dançasse no Brahma.

Please, save me the waltz.

Caio Fernando Abreu