Tuesday, March 27, 2007

Shadow





Então você nunca esteve blue


Sou a escória. Sou a escória do meu mundo, um lugar onde só vivo eu.
Sofro por não ter aquilo que nunca tive e por não ser aquilo que nunca fui.
Pobre desilusão minha;
Leviano ao pensar que algum dia poderei ser algo dos quais pensei.
Mais parece-me um fardo a ser carregado, mais parece-me uma vida inteira
que será composta e decomposta em mim.
Corro sem ter destino e tenho corrido e tenho fugido e não tenho chegado à lugar algum.
Meu norte converge ao sul, meu sorriso converge à tristeza.
Nunca fui fidedignamente alguém. Sou apenas esboços, sou apenas cópias.
Copio em mim o que me faz cair de amores no outro.
E o outro continua a ser outro. Nunca será o mesmo, nem a mesma; imagem.
Escrevo-me como uma melodia. Desarmonica, descompassada, desajustada.
E obrigue-me, obrigue-me a mudar. Force-me, estrangule-me.
Dê-me bofetões à cara.
Mas nunca mais deixe-me fantasiar corpos. Nunca mais faça-me teu.
Odeio não ter comprole sobre mim. Sou marionete, sou marionete nas vossas mãos.
Mas com a tristeza de uma criança, meus cordões comecei a cortá-los.
Dilaceram-me a carne, sufocam-me em corpo.
Quebro meus juramentos. Mas perdoe-me, inocente-me.
Com ligeira precisão voltar-me-ei ao curso que jurei tomar.
Que todos sofram, em verdade desejo, que todos sofram. Moderadamente.
Estou preso a um ser, bloqueado por um eu inexistente.
E a dor dilacera. E continua a dilacerar.
É carne clamando por carne. É o superficial.
É reles, incompleto.
Até mesmo o prazer momentâneo torna-se. E mais uma vez superficial.
Cantam-me loas, sem ao menos saber a quem dirigem-se.
E proibem-me de sangrar. Por isso, em segredo,
tenho hemorragias diárias.
Tenho revertérios e tenho dilacerações. Em segredo.
Drogo-me de mim mesmo. Sou droga, sou veneno. Mas só mato a mim.
Como gostaria de parar de envenenar-me, mas inconcientemente, não consigo.
Mato-me aos poucos. A cada dia tenho um dia a menos.
Será o orgulho da mocidade ou a tristeza da velhice? Não sei.
Como também não sei até onde meu nervos suportam.
Mas até onde puder seguir, seguirei.
E quem sabe, algum dia em minha impróspera vida, eu venha a descobrir onde eu me escondo.

Murilo Reis
21/03/2007 23h08min

1 comment:

Luis Gustavo Brito Dias said...

- vivemos escondidos atrás de máscaras. para um que aparece, colocamos uma máscara.
deve ser daí que parte toda a dor de ser.
subjetivamos cada um a cada lembrança que temos.
e só de pensar que alguém pode ser mais, mesmo ele pensando o mesmo de si em segredo, acabamos nos conphundindo e caíndo na armadilha da cobiça/inveja pelo que supomos ser "intocável", e na verdade é carne como nós.
todos somos imprósperos pelo phato da prosperidade um dia acabar.
mas dragamos a prosperidade conosco, até onde podemos viver.