Monday, August 24, 2009

[Painful]

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "

Caio F.

Não queria te pedir o que você não tinha, ou o que não tem. Não te peço nada de fora, nada de além porque do além já basta toda a metafísica incompreendida em milhares de livros de filosofia. O que eu queria te pedir era tudo que você tinha porque tudo, que um dia eu tive, e que hoje não tenho mais, eu te dei. Por isso hoje não tenho mais. Por isso essa ausência grande dentro de mim. Ausência de vida porque já não tenho, e nem quero ter, uma vida única.

Tudo que eu quis foi partilhar, compartilhar. Tudo que eu quis era que você entrasse pela porta da frente e fizesse uma cópia da chave. E você entrou. E você ficou. E eu? Eu nunca entrei, eu nunca pude fa\er nada, tudo que eu fiz foi continuar onde eu estava com a unica e singela diferença de ter você ali junto comigo. Mas não vi o novo. Não vi o sol lá fora nem tive noção de como era a tua decoração, de coração.

E essa dor que não passa? Deus, como um bisturi doeria menos. Você poderia ter me cortado. Eu teria ficado complascente mas nada além disso nos teria acontecido. Mas essa tua ausência me doi muito mais. Me doi e eu não consigo sair dela. E a culpa é sua. Porque quem não me deixou entrar foi você. 

E perdoar? Perdoou e já perdoei. Mas para não passar por isso de novo. Não basta só ajoelhar nos meus pés e dizer "Cara, me desculpa". Não basta só isso para que você espere nada mais do que um dia e repita a coisa da mesma maneira como havia feito. Ou pior, como tem feito agora, de uma forma muito maior de uma forma mais completa.

Foi como um crime perfeito. Eu sei o que você cometeu mas nada nesse mundo me faz conseguir provar isso que você fez. Você não deixou rastros você não deixou provas. Você só me deixou aqui sozinho. E eu fiquei. E eu chorei.

Mas e agora? O que farei eu? Regar o jardim malfeito ou destruir e começar tudo de novo? 

Tuesday, August 18, 2009

[Hilda Hilst - 2]

“ Se for possível, manda-me dizer:
- É lua cheia. A casa está vazia –
Manda-me dizer, e o paraíso
Há de ficar mais perto, e mais recente
Me há de parecer teu rosto incerto.
Manda-me buscar se tens o dia
Tão longo como a noite. Se é verdade
Que sem mim só vês monotonia.
E se te lembras do brilho das marés
De alguns peixes rosados
Numas águas
E dos meus pés molhados, manda-me dizer:
- é lua nova –
e revestida de luz te volto a ver.”

Friday, August 7, 2009

[Te escrevo]


 Você que me vê assim, de uma maneira que nem eu mesmo me vejo. Isso é para você que sabe que eu sempre estarei junto de você, não importa o que aconteça, porque eu te amo tanto que não consigo nem pensar numa vida longe da tua. Porque afinal, não temos mais vidas separadas, mas apenas uma que compartilhamos.
 Isso é para você que sabe todos os meus defeitos e os ama tanto a ponto de nem achá-los mais defeitos, mas pequenas particularidades que me fazem eu ser eu. Justamente você que me acorda num dia de chuva e me pede para te abraçar porque você tem medo de trovões e que, quando eu te abraço, diz que agora está tudo bem porque nos meus braços você se sente confortável .
 Claro que é para você, que me ajudou quando eu nem sabia mais para onde estava indo e de repente você me mostrou o caminho perfeito para eu seguir. Para você que ri comigo, que chora comigo, que sofre comigo, que sente prazer somente comigo. Para você que sabe que o importante não é mais a carne, que tudo isso já passou desse nível e a única coisa que nos importa é que estejamos juntos por todo o sempre, porque a carne já deteriorou a tempos devido ao nosso amor flamejante que a consumiu por inteiro.
 Para você cuja ausência me consome e te consome também porque tudo que eu sinto você também sente. Para você que se dormir longe de mim abraça o travesseiro numa tentativa fútil de apagar minha ausência. Isso é para você que mudou sua vida inteira para me dar um espaço e deixar eu entrar nela de uma maneira que você nunca havia feito e de uma forma tão aberta que só se pode fazer uma vez na vida, mas você confiou que era para ser para mim e a abriu para me deixar entrar e me apossar como uma visita que resolve ficar para sempre.
 Olha, escrevo isso para você para que saiba tudo aquilo que espero de ti no dia em que eu te encontrar. Nossos destinos estão traçados e você talvez nem saiba disso, ou talvez, ainda, você diga a mesma coisa só que nenhum dos dois ainda ouviu o que o outro tem a dizer. Me deixe falar e deixe eu te escutar porque é tudo que eu te peço. Vem para mim. Na hora certa. Mas vem.